sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Canção da Plenitude


Não tenho mais os olhos de menina
Nem corpo adolescente, e a pele
Translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
Abrandada pelos anos e o peso os fardos
Bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)


O que te posso dar é mais que tudo
O que perdi: dou-te os me ganhos.
A maturidade que consegue rir
Quando em outros temps choraria,
Busca te agradar
Quando antigamente quereria
Apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
E juventude agora: esses dourados anos
Me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
E não menos ardor, a entender-te
Se precisas, a aguardar-te qando vais,
A dar-te regaço de amante e colo de amiga,
E sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
Cujas marés - mesmo se fogem - retornam,
Cujas correntes ocultas não levam destroços
Mas o sonho interminável das sereias.


Lya Luft

Um comentário:

  1. Santo Cristo,

    Como é lindo e verdadeiro esse conteudo.
    Um amor que experimenta tão alto nível, tem que ser proclamado aos quatro cantos.

    Muito bom!

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