terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Minha Mãe


Minha mãe era uma criatura pobre,
Ainda mais pobre do que pensa o amigo.
Morrendo moça nem ceitil de cobre,
Jamais guardara para o seu jazigo.
Em cova rasa a que ninguém descobre
No chão anônimo de um cemitério antigo,
Nem cinza existe dessa alma nobre,
A cuja estrela, emocionado eu sigo.
Fraca, franzina, preta, apagada,
Viveu de sonhos, de esperança e fé,
Tombando jovem e a construir a estrada
Por onde eu houvera de a seguir de pé
Humilde, boa, carinhosa, meiga
Jamais clamara uma ofensa a Deus!
Como se fosse missionária leiga,
Tinha na fronte o esplendor dos céus.
Maneiras puras, intenções honestas,
Nem por brinquedo se esqueceu do lar.
As suas dores esplendiam em festas
Em holocausto de dever no altar.
E, suportando a uma penúria horrenda.
Ganhou do mundo um luminoso véu
Morreu sem mácula, sem perder a senda,
Que sai da dor para terminar no céu.

Theóphilo Fortunato de Camargo

Um comentário:

  1. Dois irmãos.
    Ela branca de olhos verdes, farto sorriso a iluminar seu rosto. Ele negro, carrancudo, sobra sério.
    E por que são irmãos? Porquê um sempre buscou pelo outro até encontrar. Não impontando a filiação, ventres distantes, distintos a gerar dois fetos, construidos longe. Sabem que nunca seriam com a vida satisfeitos, antes de viver privilégio do, frente a frente, ao menos uma vez, estar.
    A literatura deu a ela um pai negro (Theóphilo) e a arte a mim, mãe branca (Edith). Trama mística que tece vidas misturando-as do mesmo modo que a caldeira funde ligas de metais preciosos.
    Minha irmã de pele clara, minha Ligia e eu.

    Delta do Amazonas

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